
Segundo o Estadão, a proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviada pelo governo ao Congresso Nacional pode até ostentar seu nome técnico habitual, mas, segundo críticas recorrentes entre analistas econômicos e políticos, soa mais como uma confissão política: a prioridade central do governo Lula neste momento é pavimentar o caminho para a reeleição em 2026 — mesmo que isso implique um agravamento significativo da situação fiscal do país nos anos seguintes.
Essa constatação não surpreende quem acompanha de perto a estratégia adotada pelo Planalto desde o início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. A aposta deliberada em aumento de gastos — especialmente em políticas de transferência de renda, crédito subsidiado e investimentos públicos — é vista pelo governo como crucial para consolidar apoio popular. A percepção interna é que uma “deterioração modesta” nas contas públicas é um preço aceitável se render dividendos eleitorais. O problema: a conta não fecha, nem hoje e muito menos amanhã.
A própria LDO admite, nas entrelinhas, que o sucessor de Lula — caso não seja ele próprio — receberá um país com a casa fiscal em desordem. Trata-se do reconhecimento de que, caso não haja um esforço imediato e improvável de aumento de receitas, as despesas continuarão crescendo acima da capacidade de arrecadação da União. A armadilha fiscal já estaria armada — e foi ativada desde o primeiro dia de governo, com uma estrutura de gastos em expansão sem o devido contrapeso do lado das receitas.
Mais do que os números frágeis, o que impressiona na LDO 2025 é o grau de afastamento da realidade política. O governo projeta aumentos de arrecadação sem indicar com clareza como obterá apoio do Congresso para aprovar medidas nesse sentido. Num Legislativo fragmentado e com resistência crescente à agenda do Planalto, a crença em mais receita parece quase ingênua.
O documento também ignora outro obstáculo importante: a fadiga social com o lulismo, visível nas dificuldades que o governo tem enfrentado para traduzir suas ações econômicas em popularidade. Mesmo com a ampliação de programas sociais e medidas para ampliar o crédito, a resposta da opinião pública tem sido fria, sinalizando um cansaço mais estrutural do que conjuntural. A inflação, os juros altos e a estagnação da renda pesam — mas a desconfiança em relação à capacidade de Lula oferecer um novo rumo para o país parece ser o fator decisivo.
Ainda assim, isso não significa que Lula esteja fora do jogo eleitoral de 2026. A LDO, de certo modo, revela o próprio cálculo do presidente de que a disputa será difícil, a ponto de sacrificar o cenário fiscal de 2027 para maximizar chances agora. Mas a oposição, especialmente no campo da centro-direita, ainda parece desorganizada, sem uma liderança clara, e com sua estratégia eleitoral condicionada ao humor de Jair Bolsonaro e à oscilação das pesquisas de opinião.
